Sobre o koan “mu”

Gavealua3

Voltando ao koan MU, devemos abordar a pergunta: “Um cachorro tem a natureza-Buda ou não?”, feita por um monge, com precaução, uma vez que não sabemos se ele é ignorante ou está simulando ignorância a fim de experimentar a Joshu. Quer Joshu responda “tem” ou “não tem”, será abatido. Vocês vêem por quê? Porque o que está envolvido não é questão de “ter” ou “não ter”. Sendo tudo natureza-Buda, qualquer uma das duas respostas seria absurda. Mas isto é um “combate de Dharma”. Joshu deve se desviar do golpe. Ele assim o faz retorquindo repentinamente: “MU!”. Aqui termina o diálogo.

Em outras versões do mesmo koan, o monge continua perguntando: “Por que o cachorro não tem uma natureza-Buda, quando o sutra do Nirvana diz que todos os seres dotados de sensação a têm?”. Joshu rebateu com: “Todos tem seu karma próprio”. Isto significa que a natureza-Buda do cachorro não é diferente do karma. Os atos realizados com uma mente iludida produzem resultados dolorosos. Isto é um karma. Em palavras mais claras, um cachorro é um cachorro como resultado do seu karma passado que o condiciona a ser cachorro. É o funcionamento da natureza-Buda. Portanto, não falem como se houvesse uma coisa particular chamada “natureza-Buda”. É isto o que se deduz do Mu de Joshu. É claro, então, que o Mu nada tem que ver com a existência ou não existência da natureza-Buda, mas é ele mesmo a natureza-Buda. A resposta “MU!” expõe e ao mesmo tempo projeta inteiramente diante de nós a natureza-Buda. Agora, ainda que vocês sejam totalmente incapazes de compreender o que estou dizendo, não se extraviarão se interpretarem a natureza-Buda desta forma.
A natureza-Buda não pode ser compreendida pelo intelecto. Para experimentá-la diretamente deverão explorar suas mentes com a maior devoção até que estejam absolutamente convencidos de sua existência, pois afinal de contas, são vocês mesmo esta natureza-Buda. Quando lhes disse antes que a natureza-Buda era shunya – impessoal, destituída de volume, não fixa e capaz de infinitas transformações, apenas lhes apresentei uma figura dela. É possível pensar na natureza-Buda nestes termos, mas vocês deverão compreender que, seja o que for o que pensem ou imaginem, será necessariamente irreal. Portanto, não há outro meio senão experimentar a verdade em sua própria mente. Este caminho foi mostrado com a maior delicadeza por Mumon.
Consideremos agora o comentário de Mumon. Ele começa dizendo: “Na prática do zazen…” O zazen, recebendo o dokusan (isto é, as instruções em particular), ouvindo o teisho – todas estas são práticas do Zen. Ficar atento aos detalhes da vida cotidiana é também treinamento do Zen. Quando sua vida e o Zen forem uma só coisa, vocês estarão verdadeiramente vivendo o Zen. A não ser que concorde com suas atividades cotidianas, o Zen é apenas um ornamento. Devem ter cuidado de não ostentarem o Zen, mas fundi-lo despretensiosamente com sua vida. Para dar um exemplo concreto de atenção: quando vocês tiram os tamancos no pórtico ou na cozinha ou deixam os chinelos antes de entrar no banheiro, devem ter o cuidado de deixá-los bem arrumados, de modo que a próxima pessoa possa usá-los prontamente, mesmo que seja no escuro. Tal presença da mente é uma demonstração prática do Zen. Se vocês põem seus tamancos ou sapatos distraidamente, não estão atentos. Quando andam, devem dar os passos prestando atenção para não tropeçarem nem caírem. Não sejam negligentes!
Mas estou fazendo uma digressão. Para continuar: “…vocês devem atravessar o portão – uma barreira colocada pelos Patriarcas. “O Mu é exatamente esta tal barreira, já lhes mostrei, de início, que não existe barreira alguma. Sendo tudo natureza-Buda, não existe portão através do qual se entra ou sai. Mas, a fim de nos despertar para a verdade de que tudo é natureza-Buda, os Patriarcas com relutância colocaram barreiras e nos incitaram a atravessá-las. Condenam nossa prática defeituosa e rejeitam nossas respostas incompletas. À medida que se vai crescendo em sinceridade; um dia repentinamente chegar-se-á à Auto-percepção. Quando isto acontecer vocês serão capazes de atravessar facilmente o portão-barreira.
O Mumonkan é um livro que contém quarenta e oito dessas barreiras. A linha seguinte começa:
“Para que se realize esta coisa extraordinária chamada iluminação…” Notem a palavra extraordinária”. Porque a iluminação é inexplicável e inconcebível, é descrita como extraordinária. “…Vocês devem olhar no interior, na própria fonte de seus pensamentos e assim exterminá-los”. Isto significa que é inútil abordar o Zen do ponto de vista lógico ou da hipótese. Vocês nunca chegarão à iluminação através da inferência, cognição ou conceituação. Deixem de se apegar a todas as formas de pensamento! Saliento isto porque é o ponto central da prática Zen. E em particular, não cometam o erro de pensar que iluminação deve ser isto ou aquilo.
“Se não puderem atravessar a barreira, isto é, eliminar o surgimento de pensamentos, vocês são como um fantasma, apegando-se às árvores, e à grama”.

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1 pensou em “Sobre o koan “mu”

  1. Quando se utiliza um texto do qual não se é o autor, dever-se ia , citar a fonte. Os comentários a respeito do Koan Mu, aparecem no Livro Os Três Pilares do Zen e foi copiado na intengra. Chato!

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