Takuan Soho



Takuan Soho (1573-1645)


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TAKUAN SOHO foi um grande mestre da escola Rinzai de Budismo zen, famoso por sua força dc caráter e agudeza de espírito; foi também jardineiro, poeta, mestre do chá, escritor prolífico e figura de destaque na história da pintura e da caligrafia zen. Começou sua formação religiosa aos dez anos de idade. Aos 14 ingressou na escola Rinzai, e aos 35 foi nomeado abade do Daitokuji, grande templo zen de Kyoto. Em 1629, depois de uma disputa com o segundo xogum Tokugawa a respeito de nomeações religiosas, foi banido para uma província longínqua do norte do Japão. Beneficiado pela anistia geral que se seguiu à morte do xogum, voltou ao convívio social três anos depois e foi, entre outras coisas, conselheiro do terceiro xogum, Tokugawa.

Takuan Soho foi um monge zen, calígrafo, pintor, poeta, jardineiro, mestre do chá e, talvez, inventor da conserva de legumes que até hoje leva o seu nome. A extensão de sua obra escrita é prodigiosa (as obras completas preenchem seis volumes), e ela até hoje é fonte de orientação e inspiração para o povo japonês, como tem sido por três séculos e meio. Conselheiro e confidente de nobres e plebeus, ele parece ter transitado livremente por todas as camadas da sociedade, instruindo o xogum e o imperador e, segundo a lenda, sendo amigo e mestre de Miyamoto Musashi, espadachim e artista. A fama e a popularidade não parecem tê-lo afetado; sentindo a morte próxima, pediu aos seus discípulos: "Sepultem o meu corpo na montanha atrás do templo, cubram-no de terra e vão para casa. Não recitem sutras, não façam ritos. Não recebam presentes de monges nem de leigos. Que os monges se cubram com as mesmas vestes, comam as mesmas refeições e façam tudo como nos dias comuns." No último instante, ele escreveu o ideograma chinês yume ("sonho"), pôs o pincel sobre a mesa e expirou.

Takuan nasceu cru 1573 na aldeia de Izushi, província de Tajima, região de fortes nevascas e nevoeiros nas montanhas. lzushi é antiga o suficiente para ser mencionada nas duas histórias primitivas do Japão, o Kojikí (71Z d.C.), e o Nihon-gi (720 d.C.) e o campo ao seu redor é pontilhado de relíquias de eras passadas, velhos sepulcros e depósitos dc cerâmica da antigüidade longínqua. Embora nascido de uma família de samurais do clã Miura, no auge de uma guerra civil que já durava 150 anos, Takuan entrou num mosteiro aos 10 anos de idade para estudar a escola budista Jodo; aos 14 anos passou à prática da escola Rinzai do Budismo zen; e, com meros 35 anos — fato sem precedentes — tomou-se o abade do Daitokuji, grande templo zen de Kyoto.

Em 1629, Takuan envolveu-se naquela que depois foi chamada de a "Questão do Manto Púrpura", opondo-se à decisão do xogunato de acabar com o poder imperial de nomear os detentores de altos postos religiosos. Devido a essa oposição, foi banido para o atual Distrito de Yarnagata, e foi nessa distante província do norte que ele escreveu o primeiro e o último dos três textos contidos neste livro. Foi beneficiado pela anistia geral que se seguiu à morte de xogum, e voltou a Kyoto em 1632. Nos anos seguintes, tornou-se amigo e instrutor de Zen do imperador Go-Mizunoo, que havia abdicado mas ainda conservava a sua influência e causou uma impressão tão favorável no novo xogum, Tokugawa lemitsu — que constantemente buscava a sua amizade —, que, em 1638, fundou o Tokaiii a pedido do xogum. E, embora amigo do xogum e do imperador manteve-se sempre decisivamente afastado das querelas políticas que com tanta frequência disputavam o xogunato e o trono do crisântemo.

Diz-se que Takuan seguiu até o fim da vida o seu próprio caminho, independente, excêntrico e às vezes amargo. Sua força e sua aspereza se evidenciam tanto em sua caligrafia e pintura quanto nos textos aqui apresentados, e, — fato interessante — talvez seja possível "saborear" o caráter desse homem simplesmente degustando um prato de takuanzuke, conserva feita do rabanete gigante japonês.

Sua vida pode ser resumida nesta admoestação que ele mesmo fez: "Se tu seguires o mundo presente darás as costas ao Caminho; se não queres dar as costas ao Caminho, não sigas o mundo."

Diz-se que Takuan buscou infundir o espírito do Zen em todos os aspectos da vida que lhe chamaram a atenção, como a caligrafia, a poesia, a jardinagem e as artes em geral. A arte da espada não escapou ao seu olhar. Vivendo os últimos dias da violenta guerra feudal que culminou na Batalha de Sekigahara, em 1600, Takuan estava familiarizado, não somente com a paz e a elevação que acompanhavam o artista e o mestre do chá, mas também com os conflitos — a vitória e a derrota — que marcam a vida dos guerreiros e generais. Entre estes contavam-se, na época, figuras tio díspares quanto Ishida Mitsunari, poderoso general que deu apoio a Toyotomi Hideyoshi: Kuroda Nagamasa, daimio cristão que urdiu a queda de Mitsunari; e, em especial, seu amigo Yagyu Munenori, chefe da escola de esgrima Yagyu Shinkage e mestre de duas gerações de xoguns. A esses homens e a essa época, não menos do que a outros, dirigiu-se Takuan.



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