Decidindo seguir um caminho esporitual

Antes de decidirmos seguir um caminho de um ensinamento espiritual, de qualquer cultura ou credo do qual venha, é necessário investigar nossa motivação para fazermos isso. A principal razão para nos tornarmos interessados em seguir um ensinamento não é porque não temos mais nada para fazer, ou porque precisamos nos manter ocupados, mas porque queremos em nossas vidas algo diferente do que vemos ao nosso redor.Quando descobrimos o modo pelo qual vivem as pessoas “normais” – que não acham qualquer coisa importante em sua existência – e quando vemos que as atividades – com as quais eles se tornaram acostumados a preencher suas vidas – não resolvem o problema do sofrimento que a nossa existência no ciclo do samsara nos traz, nós realizamos que temos de fazer algo diferente de nossa vida cotidiana. A maioria das pessoas não tenta entender estas coisas, e o que está além do seu entendimento não existe para elas. O que nós estamos tentando descobrir como praticantes espirituais, o que estamos tentando fazer, não é de interesse para elas. Elas não acreditam em qualquer coisa que não possa ser vista à olho nu. Devemos evitar a cegueira desse extremo, mas nossa busca espiritual também não deve ser um tipo de fantasia espiritual, um modo de evitar a realidade cotidiana.

A fim de praticar, antes de tudo é importante entendermos a morte e o renascimento, pois é através da conscientização sobre o ciclo de sofrimento que nos aproximamos dos ensinamentos pela primeira vez. Através da investigação, podemos realizar que a nossa existência humana, nosso precioso nascimento humano, nos dá uma grande oportunidade, já que através do nosso contato com os ensinamentos podemos aprender como usar nossa inteligência para examinarmos nossos pensamentos e para observarmos como eles dão origem ao nosso apego, e podemos descobrir como levar o nosso apego e o conseqüente ciclo do sofrimento a um fim.

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Com a finalidade de levar o ciclo do samsara a um fim, devemos descobrir a fonte do sofrimento. Esta fonte é a mente pensadora que dá origem às paixões e ao apego. O único modo de superar os venenos das paixões e de suas manifestações é manter a mente sob controle. Isto pode ser feito através da prática dos ensinamentos que nos exortam a observarmo-nos a fim de compreender a mente apegada e, através da prática, a superá-la. Deste modo, os ensinamentos nos guiam para descobrirmos a natureza subjacente da mente e a integrar sua condição verdadeira com a vida diária.

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As máculas ou obscurecimentos não estão na natureza da mente (tib. semnyi / sem nyid), mas na mente que se move (tib. sem / sems), então elas podem ser purificadas. É como na história de uma velha mendiga que toda noite dormia sobre uma almofada de ouro: ela era rica, mas como não conhecia o valor do ouro, pensava que era pobre. Do mesmo modo, a pureza primordial de nossa mente não é de qualquer utilidade para nós se não estivermos conscientes dela e se não a integrarmos com a nossa mente que se move. Se realizarmos nossa pureza inata, mas apenas de tempos em tempos nos integrarmos com ela, não estaremos totalmente realizados. Estar em integração total, todo o tempo, é a realização final. Mas muitas pessoas preferem pensar e falar sobre a integração ao invés de realizá-la.

Por exemplo, se no Ati Yoga dizemos que a nossa mente natural é espontaneamente perfeita, estamos querendo dizer que já temos a qualidade da realização em nós mesmos e que não é algo que devamos obter a partir de fora. Mas apesar disso ser uma qualidade que é inata, temos de desenvolvê-la. A analogia tradicional é o modo pelo qual a qualidade da manteiga já existe no leite: para obter a manteiga, temos de bater o leite.

Tenzin Wangyal Rinpoche, – Wonders of the Natural Mind

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