UMA VISÃO DO NGÖNDRO TÂNTRICO

UMA VISÃO DO NGÖNDRO TÂNTRICO

Transcrito por Ngak’chang Rinpoche de ensinamentos orais dados
por Jigdral Yeshe Dorje Dudjom Rinpoche
Qualquer que seja a prática na qual nos engajamos, as realidades relativa e absoluta são coexistentes. Método e Sabedoria são coexistentes. Experiências e Vacuidade são coexistentes. Porque essa é a natureza da realidade que experienciamos, a prática do Ngöndro tântrico existe como um método para realizar o estado iluminado sem princípio.

A fase final do Ngöndro tântrico, o Guru Yoga, é a quintessência desse método. Na prática do Guru Yoga, você alcança esse nível de sabedoria quando o Lama se dissolve e se torna uno com você. Nesse ponto, você permanece na natureza absoluta das coisas, que é o estado real da meditação como é [transmitida nos ensinamentos Dzogchen].

No início do Ngöndro tântrico, invocamos a presença do Lama. Sendo o Lama aquele que exemplifica tanto as qualidades do caminho quanto as da meta, reconhecemos o Lama como o início e o fim de toda a prática.

Após termos começado reconhecendo o Lama, consideramos a dificuldade de obter a forma humana [em termos de ter as circunstâncias condutivas à prática]. Essa forma é a base do caminho espiritual da liberação, e é portanto preciosa e merecedora de grande respeito. Se você não valoriza a situação na qual se encontra, então você não fará uso das suas preciosas circunstâncias e uma grande oportunidade será desperdiçada.

Então, consideramos a impermanência e a morte. Tudo que existe está sujeito à mudança e à dissolução, embora você não encontre a liberdade apenas por perder sua forma física ao morrer. Você apenas vai circular na visão samsárica, assumindo outras incontáveis formas, de acordo com a sua percepção padronizada. A natureza do samsara é a experiência do sofrimento, que surge através da tentativa de manter a ilusão da dualidade. Contemplamos isso.

Então, refletimos sobre o condicionamento e padrão de nossa visão kármica. Reconhecemos a maneira pela qual nossa percepção e reações são todas governadas pelo condicionamento dualista que é tão difícil de destruir.

Esses são os chamados Quatro Pensamentos que Voltam a Mente para a Prática. Seu propósito é encorajar a atenção a se dirigir para longe da padronização e re-padronização compulsivas. É importante se prolongar nesses Quatro Pensamentos no início da prática, de forma a gerar a motivação adequada para a prática.

Praticar desse jeito é como preparar um campo arado para deixá-lo pronto para a semeadura. Então, precisamos fazer a semeadura em si. Semear a semente é receber Refúgio; gerar Bodhichitta; oferecer Mandala [para a acumulação de causas condutivas à consumação de método e sabedoria]; e purificação através da recitação de Vajrasattva. Essas práticas são como sementes lavradas no solo [preparado pela contemplação dos Quatro Pensamentos que Voltam a Mente para a Prática].

Da perspectiva da condição relativa [na qual nos encontramos], não é possível realizar a natureza absoluta da realidade sem se relacionar como o que é relativo. Sem usar a situação relativa como uma base, você não consegue realizar a verdadeira natureza da Mente. Do mesmo modo, sem esta prática relativa, você não consegue apreender diretamente a natureza da Vacuidade. O relativo e o absoluto coexistem — eles vão de mãos dadas; é muito importante realizar isso.

Olhemos agora para o Refúgio. No nível externo, há o que é chamado de Três Jóias: o Buddha, o Dharma e a Sangha. O Buddha é a fonte do Dharma. Aqueles cujas mentes estão voltadas para o Dharma são a Sangha.

Porque existimos na dualidade, experienciamos insatisfação. Por causa disso, tomamos Refúgio de modo a estarmos livres da experiência da insatisfação criada por nós mesmos. Devido à não-apreensão da nossa verdadeira natureza [por causa das aparências delusórias, que surgem quando os vários elementos aglutinam-se de acordo com padrões de confusão dualista], esse corpo humano torna-se o recipiente de intermináveis projeções dualistas. Torna-se fonte de apego, em termos de suprir definições delusórias de existência. Esse apego permanece muito forte até que se veja a verdadeira natureza da existência. Até que você esteja completamente livre da delusão de que o seu corpo confirma a sua existência, a insatisfação continuará a colorir sua experiência. Por causa disso, as Três Jóias existem como um foco de Refúgio.

Logo, externamente falando, deveria-se tomar Refúgio no Buddha, no Dharma e na Sangha com devoção. Mas internamente, o Buddha, o Dharma e a Sangha são simbólicos. Eles são um método profundo e hábil para nos levar para fora desse samsara ilusório criado por nós mesmos.

Do ponto de vista do Dzogchen, o Buddha, o Dharma e a Sangha estão dentro de nós. No nível absoluto, nossa mente, que é vazia de todas coordenadas referenciais, é em si mesma o Buddha [Rigpa — auto-luminosidade radiante]. Externamente, o Dharma manifesta-se como som e significado; você o ouve e o pratica. Mas de um ponto de vista interno, o Dharma é vazio. Em essência, é a incessante e desobstruída exibição da auto-luminosidade de Rigpa — a Mente Primordial. Externamente, a Sangha compreende aqueles cujas mentes voltam-se para Dharma. Mas internamente, a Sangha é o aspecto da Mente que tudo penetra e abarca.

Elas estão plenamente consumadas dentro de nós. Contudo, não reconhecendo isso, precisamos tomar Refúgio no Buddha, no Dharma e na Sangha externos. Quando você realmente pratica o Ngöndro tântrico de maneira adequada, você visualiza Padmasambhava com devoção fervorosa; você realiza prostrações em humildade com seu corpo; e você recita a fórmula de Refúgio com sua fala. Então, quando você senta silenciosamente ao final da sua prática [e dissolve a visualização em você mesmo], você percebe que todas essas três coisas — sujeito, objeto e atividade — não são outra coisa senão Rigpa! A meditação é a própria pessoa; Padmasambhava é a sua própria criação. Apenas permaneça na natureza de Rigpa. Além de Rigpa, não há nada a encontrar!

O Buddha Shakyamuni disse no Dode Kalpa Zangpo: “Manifestei-me de um modo onírico para os seres oníricos e dei um Dharma onírico, mas na realidade eu nunca ensinei e nunca apareci”. Do ponto de vista do Buddha Shakyamuni nunca ter aparecido e do Dharma nunca ter sido ensinado, tudo é mera percepção, existindo apenas na aparente esfera da talidade [tathata, suchness].

Como respeito à prática do Refúgio, o aspecto relativo é o objeto de Refúgio para o qual você oferece devoção e prostrações, e assim por diante. O aspecto absoluto é sem esforço. Quando você dissolve a visualização e permanece no estado mental que é sem esforço, o conceito de Refúgio não mais existe.

A geração de Bodhichitta ou pensamento iluminado significa que, se agirmos apenas para nós mesmos, não estamos seguindo o caminho do Dharma e nossa iluminação está bloqueada. É de máxima importância que geremos o pensamento iluminado, de forma a libertar todos os seres do samsara. Os seres são tão ilimitados quanto o céu. Todos eles foram nossos pais e mães. Todos eles sofreram nesse samsara, que todos nós fabricamos a partir do solo do ser. Logo, o pensamento de libertá-los desse sofrimento é realmente muito poderoso. Sem isso, temos o conceito ilusório de que estamos separados de todos os seres.

O pensamento iluminado [nas palavras do voto de Bodhichitta] é: “De agora em diante, até que o samsara se esvazie, trarei benefício e felicidade para todos os seres que foram todos minhas mães e pais.” Do ponto de vista relativo, há seres sencientes a serem liberados, há compaixão a ser gerada e há o “eu”, o gerador da compaixão. O meio de gerar e mostrar compaixão é na verdade explicado pelo próprio Buddha Shakyamuni. Assim é a Bodhichitta relativa.

Logo, nessa prática relativa de Bodhichitta, você visualiza todos os seres e gera o pensamento iluminado. Você tenta liberá-los de todo o sofrimento até que a iluminação seja alcançada. Você recita a geração de Bodhichitta quantas vezes a sua prática requeira. A instrução [de acordo com os ensinamentos sobre o desenvolvimento de Bodhichitta] é a de que você deve trocar sua própria felicidade pela dor dos outros. Conforme respira, você toma toda a dor e sofrimento deles, para que eles estejam livres disso. Essa prática também é muito importante. Sem o desenvolvimento da Bodhichitta e sem libertar-nos a nós mesmos do nosso apego [à exibição de Formas da Vacuidade], não podemos alcançar a iluminação. É por causa de nossa inabilidade em mostrar compaixão aos outros, e por estarmos apegados ao conceito de nós mesmos, é que não estamos livres da dualidade. Todas essas coisas são o aspecto relativo da prática de Bodhichitta.

A respeito do aspecto absoluto da Bodhichitta, o Buddha Shakyamuni disse ao seu discípulo Rabjor: “Todos os fenômenos são como uma ilusão e um sonho.” A razão pela qual o Buddha disse isso é que qualquer coisa que se manifeste está sujeita à mudança e dissolução; nada é inerentemente sólido, permanente, separado, contínuo ou definido. Se você vê o mundo como sólido, você se amarra com uma corda de emaranhamento e é constrangido e puxado [como um cachorro] pela compulsão como seu condutor. Você se mete em atividades que nunca podem ser terminadas, motivo pelo qual o samsara é aparentemente interminável. Você pode pensar que, porque o samsara é como um sonho, talvez a iluminação seja sólida e permanente. Mas o Buddha Shakyamuni disse que o nirvana em si mesmo é como um sonho — uma ilusão. Não há nada que possa ser nomeado como nirvana; nada chamado nirvana é tangível.

O Buddha Shakyamuni disse isso diretamente: “Forma é Vacuidade”. Por exemplo, a lua é refletida na água, mas não há lua na água; nunca houve! Não há Forma que possa ser agarrada! É vazia! Então, o Buddha Shakyamuni disse: “Vacuidade é Forma”. A Vacuidade em si apareceu na maneira da Forma. Você não consegue encontrar a Vacuidade separada da Forma. Você não pode separar ambas. Você não pode se agarrar a elas como entidades separadas. A lua é refletida na água, mas a água não é a lua. A lua não é a água, ainda que você não consiga separar a água e a lua. Uma vez entendido isso no nível da experiência, não há samsara. No reino da realização, não há samsara ou nirvana! Ao falar do ensinamento do Dzogchen, samsara e nirvana são apenas outro conceito dualista.

Ao olhar para essa lua na água, você pode dizer: “Mas está lá, eu posso vê-la!” Mas ao buscá-la e tentar tocá-la, não está lá! É o mesmo com os pensamentos que surgem na Mente. Se você perguntar, “Como isso veio à tona?”, você precisa considerar que tudo vêm de um originar interdependente. O que é esse originar interdependente? É simplesmente que a água e a lua não existem separadamente. A água límpida é a causa primária e a lua é a secundária ou causa contribuinte. Quando ambas causas se encontram, então esse originar interdependente se manifesta. É a aparência coincidente da causa primária e da causa contribuinte.

Colocando diretamente, a causa primária ou base do samsara é a dualidade — a separação artificial da Vacuidade e Forma. A partir disso, todas manifestações transformam-se em causas contribuintes dentro da rede da visão kármica. Elas se encontram e efetuam a manifestação do samsara [tanto quanto estivermos apegados ao exibir da Forma da Vacuidade como uma definição de ser]. Tudo que experienciamos como samsara existe apenas dentro desse padrão interdependente. Você deve estar bem certo disso! Quando você vai mais a fundo [e examina a natureza do originar interdependente], você descobre que não é outra coisa senão a Vacuidade. Logo, separado da Vacuidade, não há Dharma. A visão última [do Mahayana] é Vacuidade, mas esse ponto de vista não existe nos ensinamentos menores.

Se você realmente olhar para a sua experiência de existência com o olho da meditação, você começa a ver tudo como a brincadeira da Vacuidade. Os fenômenos [como coordenadas referenciais] exaurem-se e você finalmente chega à sua natureza essencial, que é a Vacuidade. Mas, tendo dito isto, você pode ser levado a dizer: “Nesse caso, não precisaríamos de nada”. Mas precisar ou não de algo é da sua conta. Simplesmente depende da sua mente! Apenas falar secamente da Vacuidade não é suficiente! Você deve realizá-la e então ver por si mesmo. Se a sua mente é realmente vazia de manipulação referencial, então não há esperança, não há medo, não há negatividade — sua mente está livre disto! É como balançar a mão no céu! Tudo o que surge é completamente desobstruído.

O propósito da meditação é permanecer nesse estado natural. Nesse estado, todos os fenômenos são diretamente percebidos em sua Vacuidade essencial. É por isso que praticamos meditação. A meditação purifica tudo na sua natureza vazia. Primeiro, precisamos perceber que o estado absoluto e natural das coisas é vazio. Então, qualquer coisa que se manifeste é a brincadeira do dharmakaya. Da natureza vazia da existência, surgem todas as manifestações relativas das quais fabricamos o samsara. Você precisa entender bem claramente como as coisas são na realidade e como elas aparecem em termos de dualidade. É muito importante ter essa Visão porque, sem Visão, sua meditação se torna empoeirada. Apenas sentar e dizer, “É tudo vazio”, é como pôr um copo de ponta-cabeça. Aquele pequeno espaço vazio no copo permanece uma Vacuidade muito limitada e estreita. Você não pode nem mesmo beber chá dela!

É essencial conhecer verdadeiramente o coração da questão como ela é. No sentido absoluto, não há seres sencientes que experimentem insatisfação. Essa insatisfação é tão vazia quanto o céu limpo, mas por causa de nosso apego à exibição de Forma da Vacuidade, [o originar interdependente da] esfera relativa das coisas torna-se uma armadilha ilusória, na qual há seres sencientes que experienciam a insatisfação. Esse é o significado do samsara.

Ao expressar a qualidade essencial da Grande Mãe, a Vacuidade, diz-se: “Embora você pense em expressar a natureza do Sutra do Coração, você não consegue colocá-la em palavras”. Está totalmente além da elocução, além do pensamento, além do conceito. Nunca nasceu. Nunca morreu. Se você pergunta como ela se parece, parece-se com o céu. Você nunca consegue encontrar o limite do céu. Você nunca consegue encontrar o centro do céu. Logo, essa natureza parecida com o céu é simbólica da Vacuidade: é espaçosa, ilimitada e livre, com infinita profundidade e infinita extensão.

Mas tendo dito isso, você poderá dizer: “Logo, meu próprio Rigpa, a natureza da minha própria mente, é como o céu, livre de todas limitações”. Mas também não é assim! Não é apenas vazia. Se você olhar lá, há algo para se ver. “Ver” é só uma palavra que usamos de modo a nos comunicarmos. Mas você consegue ver isto. Você pode meditar nisto. Você pode descansar nela e o que quer que surja nesta condição espaçosa. Se você olhar a verdadeira natureza da Vacuidade e da Forma como não-dual — como na verdade é —, essa é a mãe de todos os Buddhas. Toda essa conversa foi uma elaboração sobre a Bodhichitta absoluta.

A seguir, vem a purificação de Vajrasattva. Num sentido absoluto, não há nada a purificar, ninguém que possa purificá-lo e nenhuma purificação. Mas sendo que os seres são aparentemente desprovidos de capacidade para deixar isso assim, as questões tornam-se um pouco mais complicadas. Os obscurecimentos e confusões dualistas surgem como conseqüência do apego à exibição de Formas da Vacuidade. Na percepção ilusória desse apego à exibição de Formas da Vacuidade, nos sujeitamos à insatisfação interminável.

Por causa disso, a purificação torna-se um meio hábil relativo. De modo a purificar nossas delusões, de nosso próprio estado verdadeiro de Rigpa surgem Vajrasattva e sua consorte, e o fluxo de néctar da Mandala secreta de sua união purifica completamente nossos obscurecimentos. Você entra na visualização e recita o mantra de cem sílabas; e esse é o meio de purificação. No estado natural das coisas [no estado do que é], tudo é puro desde o princípio — como o céu. Essa é a purificação absoluta de Vajrasattva.

Agora, vamos à oferenda da Mandala [cosmograma]. A Mandala é oferecida para a acumulação de causas auspiciosas. Por que precisamos acumular causas auspiciosas? É por causa do apego à exibição das Formas da Vacuidade que o samsara ilusório trouxe à tona; portanto, precisamos praticar desistindo de tudo. Porque há a ilusão de que há um meio de purificar a ilusão, podemos utilizar isso como um meio hábil relativo. Porque você pode purificar, também há um meio de acumular causas auspiciosas. Quando você oferece “meu corpo, minhas posses e minhas glórias”, essa é a oferenda relativa e simbólica da Mandala. Do ponto de vista absoluto, essas coisas são vazias, como o límpido céu vazio. Logo, se você permanece no estado de despertar primordial, essa é a oferenda absoluta da Mandala e a acumulação absoluta de causas auspiciosas.

Então, há a prática de Guru Yoga. Devido ao apego à exibição da Forma da Vacuidade, o Lama aparece como aquele(a) que inspira pureza da mente. Ele ou ela é o objeto diante do qual nos sentimos puros. Porque o apego obscurece a mente [e porque você sente pureza de percepção diante do Lama], tanto você quanto o Lama parecem existir na esfera da dualidade [como se a natureza fundamental de suas Mentes, dentro da esfera do dharmakaya, fossem diferentes]. Assim, externamente, você visualiza o Lama com grande devoção. Então, você recebe a iniciação de sua condição não-dual.

Essas são todas as práticas externas, relativas, de Guru Yoga, nas quais você invocou a presença de sabedoria do simbólico Lama aparente. Então, você recita as palavras-vajra: “O Lama se dissolve em luz e se une ao meu próprio ser… Veja! O sabor único de Rigpa e da Vacuidade [Rig-Tong] é a verdadeira face do Lama!”

Se você perguntar onde o Lama absoluto está, ele ou ela não está em outro legar senão lá — na natureza absoluta da Mente! O estado absoluto de Rigpa é onde o Lama é plenamente realizado como sabedoria primordial e espaço claro. Simplesmente continuar no despertar do como é, é a prática Dzogchen de Guru Yoga.

Assim é como o Ngöndro tântrico externo relaciona-se com o Ngöndro interno em termos do ensinamento da Ati-yoga.

Transcrito por Ngak’chang Rinpoche de ensinamentos orais dados por Sua Santidade Jigdral Yeshe Dorje Dudjom Rinpoche, Supremo Líder da Escola Nyingma em exílio do Tibet; engrandecido pelas respostas às questões indagadas por Ngak’chang Rinpoche em audiências particulares, em relação ao Dudjom Tersar Ngöndro curto.

Extraído do site Dharmanet



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