Comentários sobre Meditação

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Homens de tempos antigos disseram que: “Se quiseres encontrar o Buda fazendo práticas de intenso labor, isso tornar-se-á aquilo que te prende ao ciclo de nascimento e morte”.

 Do livro: NADA A FAZER, NÃO IR A LUGAR  ALGUM de Thich Nhat Hanh

 

 

Escreveu o mestre Sogyal Rinpoche1:

“O que, então, devemos ‘fazer’ com a mente em meditação? Absolutamente nada. Deixe-a como está. Um mestre descreveu a meditação como ‘a mente suspensa no espaço, em lugar nenhum’.

O ditado é famoso: “Se a mente não é fabricada, aparece espontaneamente imbuída de uma felicidade sublime, assim como a água que se mostra naturalmente transparente e límpida quando não é agitada”. Com freqüência comparo a mente em meditação com um jarro d’água barrenta: quanto menos interferências ou agitação tiver, mais partículas de terra se depositam no fundo, permitindo que a claridade natural da água transpareça. A própria natureza da mente é tal que se você a deixa em seu estado inalterado e natural, ela encontrará sua verdadeira natureza, que é bem-aventurança e claridade.

Tome cuidado, portanto, para não impor nem cobrar nada à mente. Ao meditar, não deve haver qualquer esforço na direção do controle, nem empenho em ser pacífico. Não seja solene demais nem se sinta como se estivesse tomando parte num ritual especial; deixe de lado até a idéia de que está meditando. Seu corpo e a sua respiração devem ser entregues a si mesmos. Pense em si próprio como o céu, sustentando todo o universo”.

Nota 1 –   Texto do livro: O LIVRO TIBETANO DO VIVER E DO MORRER

 

Escreveu Mingyur Rinpoche2:

“Repousar a mente em uma meditação shine [shamata] sem objeto: é como se você tivesse acabado, naquele instante, um longo dia de trabalho. Simplesmente relaxe. Você não precisa bloquear seus pensamentos, as emoções ou as sensações que surgirem, mas também não precisa segui-los. Somente repouse no presente aberto, limitando-se a permitir que o que tiver de acontecer aconteça. Se os pensamentos ou as emoções surgirem, permita-se conscientizar-se deles. A meditação shine sem objeto, não significa deixar que sua mente vagueie sem objetivo, por fantasias memórias ou divagações. Ainda há uma presença da mente que pode ser aproximadamente descrita como um centro de consciência. Você pode não estar se fixando em algo especifico, mas ainda está consciente, ainda presente para o que acontece aqui e agora.

Quando meditamos nesse estado sem objeto, estamos, na verdade, repousando a mente em sua clareza natural, inteiramente indiferentes à passagem dos pensamentos e das emoções. Essa clareza natural – que está além de qualquer compreensão dualista de sujeito e objeto – está sempre presente pra nós da mesma forma que o espaço está sempre presente”.

“A verdadeira natureza é indivisível. A clareza, como a vacuidade, é infinita: ela não tem limites, não tem começo nem fim. Quanto mais profundamente analisa­mos nossas mentes, menos possível se torna encontrar uma distinção clara en­tre onde nossa própria mente termina e onde a dos outros começa.

Quando isso começa a acontecer, o senso de diferenciação entre o “eu” e o “outro” é substituído por um senso mais sutil e fluido de identificação com ou­tros seres e com o mundo que nos cerca”.

“A natureza fundamental da mente é chamada de tathagatagarbha, outras traduções menos literais utilizam termos como “natureza búdica”, “verdadeira natureza”, “essência iluminada”, “mente comum” e até “mente natural” para descrever o tathagatagarbha, mas nenhum deles lança muita luz sobre o verdadeiro significado da palavra. Para efetivamente entender o tathagatagarbha, você precisa vivenciá-lo diretamente, o que, para a maioria de nós, ocorre, em primeiro lugar, na forma de vislumbres rápidos e espontâneos. Quando, finalmente, vivenciei meu primeiro vislumbre, percebi que tudo o que os textos budistas falam a respeito é verdade”.

Nota 2. – Textos de Yongey Mingyur Rinpoche do livro: “A alegria de viver”

  

Quando encontramos alguém que amamos, ao abraçá-la sentimos uma grande alegria. Igualmente, ao praticarmos a meditação façamos como se estivéssemos verdadeiramente encontrando e abraçando a nossa natureza primordial.

Muitos professores e mestres de algumas tradições e escolas budistas falam freqüentemente do grande esforço que deveríamos fazer para realizar a iluminação. Esse esforço para alcançar “algo” no futuro é exatamente um dos motivos que nos impedem de descobrir “aqui e agora” a nossa verdadeira natureza.

Meditar, como também outras práticas, não são obrigações que deveríamos cumprir para atingir algo no futuro. Praticando, deveríamos sentir a mesma alegria e felicidade que sentimos em um encontro com quem amamos, pois estaremos abraçando a nossa verdadeira natureza, nesse momento, não precisamos fazer nenhum “esforço”, ao contrário, é uma fruição. Seja qual for a prática, sintam-se tranqüilos e felizes de poder realizá-la.

Devemos reconhecer o tathagatagarbha, ou natureza búdhica, que tem estado presente como nossa verdadeira natureza desde sempre. Aqui não é suficiente focalizar as práticas fabricadas que envolvem esforços e conceitos intelectuais. Para reconhecer a verdadeira natureza, nossa prática deverá estar completamente além da fabricação. A prática é simplesmente realizar o estado natural, longe de todos os conceitos intelectuais. É a verdadeira realização da natureza absoluta assim como ela é — a fruição última.

Karma Tenpa Dhargye

 

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