Meditação nos objetos sensoriais

MEDITAÇÃO NOS OBJETOS SENSORIAIS
 

Tenzin Wangyal Rinpoche
Do livro "Yogas Tibétains du Revê et du Sommeil"
Traduzido do inglês por Tancrède Montmartel
Traduzido ao português por Karma Tenpa Dargye

Cada respiração pode ser uma prática. Inspirando, imaginemos absorver energias puras, purificadoras, repousantes. A cada expiração, imaginemos que expulsamos todos os obstáculos, as tensões e as emoções negativas. Não é necessário para isso sentar-se em um lugar especial. Podemos fazê-lo no carro indo trabalhar, esperando o sinal abrir, sentado diante do computador, durante a preparação do almoço, limpando a casa, ou caminhando.

Uma prática poderosa, ainda que simples, consiste em tentar manter continuamente a presença no corpo durante o dia. Sintamos o corpo em sua totalidade. A mente é pior que um macaco louco, saltando de uma coisa para outra, incapaz de se concentrar sobre uma delas. Mas o corpo é uma fonte estável e constante de experiências das quais podemos nos servir para ancorar a mente e ajuda-la a ficar mais calma e mais concentrada. Do mesmo modo que a participação da mente é essencial à organização e à alimentação materiais da vida, o corpo serve para estabilizar a mente em uma presença calma, cuja importância é fundamental para todas as práticas.

Quando caminhamos em um parque, por exemplo, pode ser que o corpo se encontre aí e a mente esteja longe, no escritório, ou em casa, ou conversando com um amigo afastado, ou fazendo uma lista de comissões. Isso quer dizer que a mente está desconectada do corpo. Em lugar disso, quando olhamos uma flor, a olhamos verdadeiramente. Estejamos inteiramente presentes. Com a ajuda da flor, reconduzamos a mente para o parque. Apreciar a experiência sensorial reconecta a mente e o corpo. Quando a experiência da flor é feita através de todo o corpo, uma cura tem lugar. É a mesma coisa se olharmos uma árvore, aspirarmos um odor, sentirmos o tecido de nossa camisa, ouvirmos um canto de pássaro, ou degustarmos uma maçã. Treinemo-nos em perceber claramente os objetos sensoriais, sem julgamento. Tentemos ser totalmente o olho diante de uma forma, o nariz com um odor, o ouvido com um som, e assim por diante. Tentemos realizar a experiência profundamente permanecendo na pura consciência do objeto sensorial.

Quando esta capacidade é adquirida, as reações não diminuem. A visão de uma flor fará surgir um julgamento sobre sua beleza, ou um odor será julgado fétido. Entretanto, a prática permite agora manter a conexão com a pureza da experiência sensorial e evita à mente perder-se na distração. Deixar-se distrair por uma massa de conceitos é um hábito que podemos substituir por um hábito novo: utilizar as sensações do corpo para ficar diante da presença, para abrir-se à beleza do mundo, à experiência resplandecente e nutriente da vida, que se encontram sob nossas distrações. {…}

O primeiro instante da percepção é sempre claro e brilhante. É somente a distração da mente que nos impede de reconhecer e apreciar cada momento da vida. Manter a presença na experiência apóia-se na estabilidade da forma e da percepção viva do mundo sensorial para manter as qualidades da mente mais aptas a tornarem frutuosas as práticas. {…}



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