Shikan-taza




SHIKAN-TAZA

Até este momento vocês se têm concentrado no seguir sua respiração com os olhos da mente, procurando experimentar vitalmente a inspiração como inspiração só, e a expiração somente como expiração. De agora em diante quero que pratiquem o shikan-taza, que descreverei brevemente em detalhe. Não é comum nem desejável mudar assim tão rapidamente de um para outro destes diferentes exercícios, mas segui este curso para lhes dar o gosto pelas diferentes formas de concentração. Depois que completar estas conferências e vocês se apresentarem a mim sozinhos, prescrever-lhes-ei a prática correspondente à natureza da sua aspiração, assim como o grau de sua determinação, o que significa a prática de contar ou de seguir suas respirações, shikan-taza ou um koan.

Esta palestra vai tratar do shikan-taza, Shikan significa “nada mais que” ou “somente”, enquanto ta significa “bater” e za “sentar-se”. Portanto, o shikan-taza é a prática em que a mente é intensamente envolvida apenas com o sentar-se. Neste tipo de zazen tudo é mais fácil para que a mente, que não é ajudada por auxílios tais como a contagem da respiração, ou por um koan, se distraia. O vigor correto da mente se torna por isso duplamente importante. Assim pois, no shikan-taza a mente deverá estar sem pressa, mas ao mesmo tempo firmemente plantada ou solidamente composta, digamos, como Monte Fuji. Mas deverá também estar alerta, distendida, como um arco esticado. Assim o shikan-taza é um estado mais elevado da consciência concentrada, no qual alguém não está nem tenso nem apressado, e certamente jamais negligente. É a mente de alguém que enfrenta a morte. Vamos imaginar que vocês estão engajados num duelo de esgrimistas do tipo que costumava haver no Japão antigo. Ao enfrentar o adversário, vocês estarão continuamente atentos, situados em determinado lugar, prontos. Se vocês relaxassem sua vigilância, mesmo por um momento, seriam abatidos instantaneamente. Uma multidão se reúne para assistir à luta. Como não são cegos, vocês a vêem pelo canto dos olhos, e como não são surdos, a escutam. Mas nem por um instante sua mente se deixa prender por estas impressões dos sentidos.

Este estado não pode se manter por muito tempo – de fato, não deverão fazer o snikan-taza por mais de meia hora em cada sentar-se. Depois de sete minutos levantem-se, dêem algumas voltas em kinhin e então reassumam seu sentar-se. Se estiverem verdadeiramente fazendo o shikan-taza, em meia hora estarão suando, mesmo no inverno no quarto não aquecido, por causa do calor ocasionado por esta intensa concentração. Quando vocês se sentam por tempo excessivamente longo, sua mente perde o vigor, seu corpo se cansa e seu esforço é menos compensador do que se tivessem restringido seu sentar-se a períodos de trinta minutos.

Comparado a um esgrimista inexperiente, um mestre usa sua espada sem esforço. Mas este não é sempre o caso, pois houve um tempo em que ele teve de fazer o máximo de esforço, por causa de sua técnica imperfeita, para preservar sua vida. Não há diferença no shikan-taza. No início a tensão é inevitável, mas com a experiência esse zazen tenso desfaz-se num sentar-se plenamente atento e relaxado. E do mesmo modo que o mestre esgrimista numa emergência desembainha sua espada sem esforço e ataca com um só propósito, assim o adepto do shikan-taza senta-se sem trabalho, alerta e vigilante. Mas não pensem, por um minuto sequer, que tal sentar-se poderá ser realizado sem uma longa e dedicada prática.

Aqui termina a palestra sobre o shikan-taza.



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