A terceira e meia nobre verdade

Texto de Sylvia Boorstein,
extraído do livro
É mais fácil do que você pensa

O Buda ensinou que o fim do sofrimento era possível. Podíamos, disse ele, condicionar a mente a uma lucidez tão profunda, que nossas experiências iriam chegar e partir no grande mar de uma mente vasta e sábia. A dor e a alegria iriam chegar e partir; a satisfação e o desapontamento chegariam e partiriam, e a mente permaneceria essencialmente tranqüila. Causa grande sensação de liberdade saber que você não precisa estar satisfeito para ser feliz.

Todavia, o fim do sofrimento ainda não chegou para mim. Não é por falta de aspiração. Eu tenho aspirações! Também não é por falta de compreensão. Eu acredito de todo o coração que a liberdade é possível. Sei que a tendência que a mente tem de se debater decorre do nosso hábito de encarar os problemas de forma pessoal, em lugar de vê-los como parte do desenrolar do grande drama do universo. Sei com certeza que tudo está condicionado e tenho certa crença no Karma. Não obstante, eu me debato e sofro. Todavia, sofro menos do que costumava sofrer e o sofrimento não me perturba tanto quanto antes.

Portanto, acrescento uma meia Nobre Verdade. A meia Nobre Verdade é: "Podemos lidar com o sofrimento." Longe de chegar à completa cessação do sofrimento, coisa em que tenho fé absoluta enquanto possibilidade, fico contente por poder lidar melhor com o sofrimento. Como sei que se pode lidar com o sofrimento, a dor não me causa tanto medo quanto antes. Hoje em dia, costumo dizer aos meus alunos que, embora o Buda tenha dito que a cessação do sofrimento é possível, eu mesma ainda não consegui isso. Eles não ficam desanimados e, ao que me parece, também não perdi nada da minha credibilidade. Para eles, é uma boa notícia ouvir alguém dizer que se pode lidar com o sofrimento.

Essa Nobre Verdade adicional também faz com que eu tenha mais compaixão com relação aos outros e a mim mesma. Eu consigo ver como me envolvo em meus problemas, como me debato, sofro, desejo que aquilo não tivesse acontecido e, no fim das contas, como as coisas acabam mudando e se resolvendo. Sou mais benevolente comigo mesma quando percebo quanta dor existe na minha mente em virtude dos apegos condicionados. Reconhecer o meu próprio sofrimento, a despeito dos muitos anos de prática e da sabedoria ou compreensão que eu porventura tenha adquirido, faz-me sensível à dor supostamente imensa de todas as pessoas com as quais estou partilhando este planeta.


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