Amar


Amar

Texto de Shundo Aoyama, extraído
do livro “Para uma pessoa bonita

Certa vez dei de presente a uma Mestra uma lembrança que bavia escolhido com cuidado durante uma viagem, esperando que ela se alegrasse. Eram folhas de papel colorido. Ela me surpreendeu, dizendo:

“Na verdade, isto não serve para mim, mas o aceito porque poderá servir para outra pessoa”.

“Já que vai dá-lo a outra pessoa, eu nem deveria lhe presentear”, falei sem pensar.

Naquele instante, percebi que eu era incapaz de dar sem reservas. Aí estava eu, expondo totalmente meu lado feio e desagradável, apegada não só às minhas coisas, mas também àquilo que não era nem meu. Nem soube ficar satisfeita por ela o ter aceitado e não fui capaz de dizer: “é todo seu, faça como achar melhor: dê para alguém, passe adiante”.

Assim que percebi isso, juntei as palmas e agradeci, pensando: “Obrigada. Se não tivesse estudado Budismo, não teria nunca reconhecido meu apego à posse. Sou mesmo bem- aventurada”. O poeta indiano Tagore diz em um de seus cantos: “Que meu amor não seja um fardo para você. Amo-a porque quero”.

Além de ser capaz de amar e dar incondicionalmente, Tagore era tão sensível a ponto de cuidar para que seu amor não fosse um peso para sua amada. Enrubesci. O ponto que o coração do grande poeta alcançava é onde o meu ainda não havia chegado. Que vergonha!


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