O despertar não é sectário

Texto de Sylvia Boorstein,
extraído do livro
É mais fácil do que você pensa

Toda tradição religiosa que eu conheço trata do despertar para a verdade. Todo caminho que conheço promete que a experiência direta da verdade nos liberta, nos traz paz, nos leva a agir com compaixão. O conhecimento da verdade traz felicidade.
A prática da meditação consciente e da metta (benignidade) não é desafiadora do ponto de vista religioso. Isso faz com que elas sejam instrumentos acessíveis para praticantes de meditação pertencentes a todas as tradições. Consciência, lucidez, compaixão e compreensão fazem parte do caminho espiritual de qualquer pessoa.

CENÁRIO

Na minha primeira experiência com retiros espirituais, fiz parte de um grande grupo, talvez uma centena de pessoas, concentrado na prática da conscientização num mosteiro em Barre, Massachusetts. Os retiros são feitos em silêncio e, portanto, exceto pelas diferenças nas vestes, não se pode dizer quem é quem.
Passaram-se dias enquanto vivíamos e praticávamos juntos, em silêncio. Vi monges theravada, vestindo túnicas laranja, adeptos do Zen-budismo usando os trajes tradicionais dessa tradição, e monges e monjas tibetanos. Havia mulheres com túnicas rosa no estilo sari, e supus que fizessem parte de alguma tradição hindu. Algumas pessoas usavam roupas e colares de contas vermelhas, indicando que eram seguidoras de determinado mestre hindu. Um homem usava um hábito de monge franciscano. Eu gostava de passar perto dele porque os longos rosários e o crucifixo que pendiam do seu cinto produziam agradáveis estalidos quando ele caminhava.
Numa noite de sexta-feira, entrei na sala de jantar e vi que alguém acendera duas velas numa pequena mesa no canto dessa sala comunitária. Perto das velas, havia um aviso que dizia:
"Estas são velas do Sabá. Não as apague, por favor. Elas vão se extinguir por si e eu as retirarei amanhã, depois do pôr-do-sol."
Olhei em volta e pensei: "Aqui estamos nós! Nossa dieta vegetariana não é incompatível com nenhuma religião e não constitui impedimento para a presença de quem quer que seja. Temos uma liturgia do silêncio e, portanto, todos podem ficar aqui. Cada um de nós, qualquer que seja o contexto religioso de nossa vida, está tentando despertar. Praticar a conscientização —isso é uma coisa que podemos fazer juntos."

Os ensinamentos deste livro são indiscutivelmente budistas. Eles são claros, úteis e não dizem respeito a nenhuma religião em particular. Verdade é verdade. A confusão mental e o sofrimento são universais, e o anseio pela felicidade e pelo fim do sofrimento também são universais.


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