Lin-Chi (? – 867)


Referências
Kapleau
Varenne
David Scott e Tony Doubleday
Discípulos
Linhagem


Referências1

Lin-chi (Rinzai) foi um mestre ch’an, que iniciou a linhagem Lin-chi (Rinzai), recebeu a transmissão do Dharma de Huang-po e transmitiu o Dharma para Hsing-hua Ts’ung-chiang que deu continuidade a umas das linhagens mais importantes do Zen Rinzai.


Referências2
Linji Yixuan (Lin-chi Eu-hsuan, Rinzai Gigen), d.867. Linji, recebeu a Transmissão de Huang-Po e foi o
mestre fundador da Linhagem Linji (Rinzai). Ele aparece em “Registros do Precipício Azul” 20 e 32, “Registros do Silêncio” 13, 38, 80, 86, 95,.


Rinzai Gigen (Em chinês Lin-Chi l-hsüan;? — 867): famoso mestre chinês do período T’ang; baseada em seus ensinamentos formou-se uma seita particular com o seu nome. A coleção das Sentenças de Rinzai (Rinzai-roku) é um texto largamente usado pelos mestres Rinzai no Japão. Rinzai é famoso por seus discursos vigorosos e enérgicos métodos pedagógicos.


Este é o mestre do Ch’an, cujo nome, em japonês, é usado para designar uma das duas maiores seitas Zen. Lin-chi ficou famoso pela maneira rude e franca com que tratava os discípulos para despertar suas mentes. Era bem capaz de bater no inquiridor para cortar os padrões de pensamento condicionado e permitir que a mente se abrisse para sua verdadeira natureza. Seus métodos de ensino são mais bem ilustrados por suas próprias palavras:

Os seguidores do Caminho, o Dharma de Buda, não necessitam de instrução especializada. Seja simplesmente você mesmo, sem buscar mais nada, fazendo uma necessidade, usando mantos ou comendo… Se você domina a situação na qual está, onde quer que esteja tudo se torna verdadeiro, você não é mais manobrado pelas circunstâncias.

Amigos, vou dizer-lhes uma coisa: não existe Buda, não existe caminho espiritual para seguir, nem treinamento, nem realização. Você está febrilmente correndo atrás de quê? Colocando uma cabeça em cima de sua própria cabeça, seus cegos idiotas! A cabeça está exatamente onde deveria estar. O problema € que vocês não acreditam em vocês mesmos, o suficiente. Por não acreditarem em si próprios, são jogados pra lá e pra cá pelas condições nas quais se meteram. Estando escravizados e distorcidos pelas situações objetivas, não têm liberdade de espécie alguma, não são senhores de si próprios. Parem de se voltar para fora e não se apeguem às minhas palavras, também. Simplesmente deixem de se apegar ao passado e de ficar ansiando pelo futuro.


A casa de Lin-Tsi (morto em 867)5

Por David Scott e Tony Doubleday

Cerca de 150 anos após Huei-Neng, Lin-Tsi traz novo alento ao “não-pensamento” do Tch’an. Subverte, com uma verve fulminante, os dados formais da doutrina.

Esse iconoclasta obstinado sucedeu a Huang-Po e construiu seu ensinamento como uma máquina de guerra dirigida contra a tentação de reduzir os fatos a uma formulação metafísica enganosa.

Lin-Tsi valeu-se de uma matéria verbal tosca, da língua popular não-afeita à sofistica búdica. Atualmente, certos comentadores acadêmicos, um tanto afetados, extasiam-se diante desse mestre que rosna como um carroceiro!

Conforme sublinhou Paul Demieville, a quem devemos uma tradução e comentários excepcionais, Lin-Tsi é o primeiro a dar ao chinês vernacular um status cultural ou “literário”…

O Tch’an, solicitando a contribuição da fala popular, introduz-se na vida cotidiana dos camponeses, artesãos, mercadores.

Lin-Tsi não apela para fórmulas abstrusas, negligencia as referências filosóficas, rejeita o abuso do discurso acadêmico. Seus sermões, recolhidos pelos discípulos, trouxeram-lhe glória nacional, à qual não deu atenção, prosseguindo sua obra de demolição…

Seu método pedagógico vai diretamente ao alvo e traduz de modo concreto a experiência do Tch’an, menosprezando as abstrações teóricas.

Lin-Tsi forjou in loco sua maiêutica. Para “tirar os vermes do nariz” dos adeptos, inventou a frio instrumentos destinados a fazê-los parir: gritos, arrotos, bastonadas, sopapos, etc. Essas manifestações espetaculares, cujo sentido em parte nos escapa, funcionam como fórceps sobre a consciência dos ouvintes.

Os golpes desferidos por Lin-Tsi faziam explodir a apatia da comunidade monástica, sempre votada às gemônias. Vemo-nos reduzidos a interpretar o desenvolvimento dessas sessões pedagógicas, que lembram estranhamente uma dramatização terapêutica.

Essa atitude espetacular, voluntariamente chocante, talvez obedeça a um sistema convencional cuja estrutura nos escapa.

As conversações de Lin-Tsi são oratórias virulentas. Não há afetação nesse diálogo intenso que mina o discípulo e corrói sua resistência.

O intercâmbio entre mestre (anfitrião) e discípulo (visitante) pode assumir contornos diversos, conforme os comentários magistrais de Paul Demieville.

1) O exame do anfitrião pelo visitante

O discípulo faz khat (eructação) e em seguida tenta envolver o mestre num tema discursivo clássico, dentro da terminologia búdica.

O mestre corre o risco de aferrar-se num debate ideológico, de marcar passo oferecendo explicações dogmáticas ou comentários ocultos.

Depois que o visitante eructa novamente, para demonstrar o absurdo da resposta, o mestre, caso insista, é ridicularizado; e o visitante se vai, batendo a porta.

2) O exame do visitante pelo anfitrião

O mestre tenta demover um discípulo que se agarra ao aparato lógico e aos dogmas como um náufrago desesperado. Mas o visitante não quer saber de discussão e empaca como um asno teimoso, recusando-se a avançar ou a recuar, confundido por sua pergunta ideológica. Não há outra solução: o mestre espanca o aluno e o põe porta afora.

3) O exame de um anfitrião por um anfitrião

Dois mestres encontram-se e põem-se a dialogar. O primeiro submete ao segundo um ponto litigioso de metafísica. Mas este escusa-se ao ataque pernicioso e replica com uma sandice qualquer. O questionador, convencido da justeza do interlocutor, apressa-se a felicitá-lo; mas o outro, receoso de uma armadilha, recusa esses cumprimentos, no mínimo, ambíguos.. –

4) O exame de um visitante por um visitante

Dois alunos querem mostrar sapiência. Elogiam-se mutuamente, felicitam-se. Um e outro são perfeitos idiotas, inflados de vaidade e ignorantes da verdade essencial do Tch’an.

Essa maiêutica embusteira limitava a ambição de Lin-Tsi, que era chegar à verdade sabotando sistematicamente toda formulação complexa referente à doutrina.

Conhecer o budismo, a rigor, não serve para nada se continuamos incapazes de manifestar por atos e palavras autênticas o estado dessa compreensão. Por isso a dúvida, a reflexão e a cogitação são punidas com bastonadas e pragas.

Lin-Tsi jamais evoca o “espírito”, o “mental cósmico”, o “não-pensamento” ou o Buda, que compara a “uma latrina”.

Seu método apela para um corte cerebral, para um desnudamento psicológico destinado a revelar o “homem verdadeiro”, sem cuidados, despojado de fatuidades espirituais.

No dizer de Lin-Tsi, o homem verdadeiro é, sem dúvida. a mais bela “conquista” do Tch’an. Não se trata de bancar o esperto entregando-se a macerações espetaculares, recitando de cor as escrituras, mas de descobrir cada qual sua verdade própria, aqui e agora.

O homem verdadeiro é isolado, exprime sua nudez essencial, ontológica, sem referência a condições sociais e sem apoio num saber adquirido em textos doutrinários.

Uma história zen ilustra a busca obstinada do homem isolado.

Certo dia, mestre Keichu foi convidado para uma conversa com Kitagaki, governador de Quioto. que arvorava seus títulos no cartão de visitas.

Keichu deu logo a entender que não perderia seu tempo com semelhante personagem. Kitagaki compreendeu imediatamente o sentido da recusa e rabiscou o titulo honorífico, deixando apenas seu nome. Quando o mensageiro lhe trouxe de volta o cartão rabiscado, o mestre exclamou: “Oh, que felicidade conhecer tal homem!”

O Tch’an de Lin-Tsi é, sem concessão, mundano; que ninguém se prevaleça de seus titúlos, de suas funções sociais ou políticas na presença do homem verdadeiro, “sem qualificações”.

‘‘Agi da maneira mais comum possível, nada de afetação!”
‘‘Sede vosso próprio mestre onde quer que estiverdes e de pronto sereis verdadeiros.”

Lin-Tsi, como Huei-Neng e Chen-Huei, recriminava constantemente a postura sentada, não por serem si mesma perniciosa, mas por tornar-se com o tempo um obstáculo intransponível, um hábito limitador e nefasto.

“Existem uns cegos que, após comer seu bocado de pão, assentam-se para meditar, para se entregara práticas contemplativas. Enchem-se de todas as impurezas do pensamento no afã de não pensar, buscam a quietude pelo dissabor do barulho. São práticas heréticas.”

“Veneráveis! Quando digo que não existe lei a ser procurada fora, os aprendizes deduzem que é preciso procurá-la dentro deles mesmos. Então, sentam-se com as costas na parede, língua colada ao céu-da-boca, e permanecem mergulhados na meditação.’

– Lin-Tsi corta os liames que nos prendem aos reflexos, as projeções, às estratégias mentais. Demole os fundamentos do pensar, priva-o de qualquer apoio.

“Quereis ver as coisas em conformidade com a lei? Então evitai ser ludibriados pelos outros. Tudo o que encontrardes

dentro ou fora de vós mesmos—, matai!”

Nunca o Tch’an levara tão longe sua formulação negativa. Lin-Tsi nada poupa: nem o Buda, nem a Lei (darma). nem a prática.

Essa exigência é, de certo modo, patética. Suas cóleras, suas violências, suas provocações justificam talvez um azedume, uma irritação que transparece no relato que se segue — tido por Paul Demieville, seu tradutor, como um dos mais belos que proferiu. O mestre não pode deixar de experimentar um isolamento esmagador quando avalia a passividade, a apatia de seus discípulos, mergulhados num marasmo espiritual mais que evidente.

‘‘Quanto à minha maneira de agir

aquela que hoje adoto —. ela é, na verdade, ao mesmo tempo criadora e destruidora. Deixo-me levar pelas transformações espirituais, dou-me com todas as coisas mas a nada me prendo! As coisas não podem me desviar. Por menos que alguém venha procurar, saio para vê-lo. E ele não me reconhece.

Ponho então todo tipo de vestimenta, que faz nascerem no aprendiz as interpretações; mas logo se deixa prender por minhas palavras e frases.

Desgraça! Os cegos se apossam de minhas vestes para me verem azul, amarelo, vermelho, branco!

E se tento levá-los aos domínios puros, eis os aprendizes imediatamente ansiosos pela pureza; se lhes sonego essa vestimenta de pureza, ei-los perdidos e estuporados.

Põem-se a correr como loucos gritando que estou nu! Digo então: “Agora o reconheceis, o homem em mim que enverga roupas?” Súbito, voltam a cabeça. E me reconhecem.


  1. Extraído do site http://www.kaihan.com/.
  2. Extraído de “Ensinos do Mestre Zen Anzan Roshi”(texto compilado pelo Ven. Jinmyo Fleming ino e traduzido ao Português por Claudio Miklos.
  3. Extraído de “Os três pilares do Zen” de Philip Kapleau
  4. Extraído de “O Zen” de Jean-Michel Varenne
  5. Extraído de “Elementos do Zen” de David Scott e Tony Doubleday

Entre os discípulos de Lin-Chi estão: Joshu Hushin (Chao-Chou), Nansen (Nan-Chuan) e Kuan-chih Chih-Hsien e Hsing-hua Ts’ung-chiang.



Linhagem Rinzai de Koryu Osaka

    ÍNDIA

  1. MAKAKASHO
  2. ANANDA
  3. SHONAWASHU
  4. UBAGIKUTA
  5. DAITAKA
  6. MISHAKA
  7. BASHUMITSU
  8. BUTSUDANANDAI
  9. FUDAMITA
  10. BARISHIBA
  11. FUNAYASHYA
  12. ANABOTEI
  13. KABIMORA
  14. NAGYAHARAJUNA
  15. KANADAIBA
  16. RAGORATA
  17. SOGYANANDAI
  18. KAYSHATA
  19. KUMORATA
  20. SHAYATA
  21. BASHUBANZU
  22. MANURA
  23. KAKUROKUNA
  24. SHSISHIBODAI
  25. BASHASHITA
  26. FUNYOMITA
  27. HANNYATARA
    CHINA

  1. BODAIDARUMA
  2. TAISO EKA
  3. KANCHI SOSAN
  4. DAII DOSHIN
  5. DAIMAN KONIN
  6. DAIKAN ENO
  7. NAN-YUEH HAUI-JANG
  8. MA-TSU TAO-I
  9. PAI CHANG HUAI HUAI
  10. HUANG-PO
  11. LIN-CHI (RINZAI)


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